Estou apenas com esta vontade de escrever que surge assim quando estou um pouco triste e saudoso. O que devo escrever? Não sei.
      Dizem que quando não temos nada a dizer o melhor é ficarmos quietos em nosso canto, mas não sou dos que seguem aquilo o que os outros dizem.
      Assim insisto em continuar escrevendo...

  28 fevereiro 2006
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A dor de nunca saber o bastante

Este é um título de uma reportagem que saiu na revista VEJA em 05/09/2001 e no jornal Folha de São Paulo.
Às vezes eu fico com esta dor porque não consigo fazer o que quero fazer simplesmente porque não sei como. Principalmente se é algo que vou escrever em minha dissertação de mestrado...

Para ler o artigo na Folha de São Paulo

  23 fevereiro 2006
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Diferenças de escrita

     Estas são as anotações que tive quando comecei a escrever no computador. Pode parecer que não há diferença alguma, mas notei que há sim...

09 de novembro de 1998

     Acordei nesta madrugada com esta sensação: vivo para escrever. Mas o que escrever? Nem sei bem. Nesta agenda apenas consigo escrever a caneta e ainda por cima com uma caneta específica. Ela dá aquele tom azul trêmulo das palavras mal nascidas (é que sendo uma caneta velha ela falha muito…). Escrever à caneta é como pintar com aquarela: cada pincelada dada se torna permanente, sem muita margem para arrependimentos. Mas eu gosto assim. Não que eu pense muito antes de escrever algo, mas que pelo menos o que eu escreva seja autêntico. No máximo me permito a algumas correções ortográficas e gramaticais.
     Já escrevi a lápis. Não, não gostei. É que não me sinto seguro. Poder apagar o que se escreveu e moldar as palavras para que estas sejam mais adequadas ou polidas não é o meu objetivo. Agora só escrevo a lápis nos livros que leio. Mas este hábito adquiri quando lia livros que não me pertenciam e como todo hábito, este ficou grudado em mim. Acho que não conseguirei nunca fazer um rabisco qualquer num livro que não seja a lápis.

11 de novembro de 1998

     Hoje estou sentado em frente ao meu computador. O que é muito natural para mim, exceto que estou experimentando escrever algo aqui. Logo de cara já percebo que o processo de criação neste é mais limpo. Quero dizer, não há aqueles rabiscos de idéias surgidas repentinamente. Mesmo porque posso eliminar as palavras diretamente no texto, o que não é possível com o papel e tinta. E ainda assim parece-me que tenho uma postura mais trabalhada mentalmente antes de transcrevê-las. Não sei por que isto ocorre. Vejo também que perco com isso as pequeninas idéias que foram surgindo durante a construção do texto final. As pequeninas idéias que foram surgindo e que permeavam os meus pensamentos. Será que elas não são importantes? Tenho esta preocupação com todo pensamento, mesmo as que poderiam ser consideradas irrelevantes. Tentarei ser menos castrador e deixar fluir melhor o que penso direto para o teclado deste computador. Espero que isto seja possível.

  19 fevereiro 2006
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O dever da preguiça

Deise Recoaro e Marcelo Gonçalves

     Acordar cedo, enfrentar o trânsito de São Paulo ou ônibus lotado. Atender três pessoas ao rnesmo tempo na urgência, dando uma volta de 360° graus na cadeira. É telefone, cliente, pepino para resolver, sem contar a pressão para vender. Enfim, uma loucura.
     A leitura do artigo “O dever da preguiça”, de Thierry Paquot, nos levou automaticamente a refletir sobre a situação dos bancários e bancárias. Cada vez mais aumenta o número de pessoas com síndrome do pânico nos bancos, devido ao ritmo alucinante de trabalho. Falar em preguiça pode parecer um insulto, uma injúria, um pecado para alguns. Mas também pode significar alívio, prazer e arte para outros. É o que podemos sentir em uma das estrofes do poema Liberdade, de Fernando Pessoa:

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!

     Esse sentimento está também na malícia e criatividade do personagem Macunaíma, “o herói de nossa gente”, de Mário de Andrade que, num suspiro profundo, desabafa:

- Ai!... que preguiça!

     A preguiça foi durante muito tempo, segundo a igreja, classificada como um dos sete pecados capitais. O ócio é visto como um atentado contra o trabalho que, por sua vez, gera toda a riqueza que, por sua vez, é mal distribuída. O religioso mistura-se com o econômico para justificar a condenação do homem e da mulher ao trabalho. “AIto lá, cara pálida! E do que é que eu vou sobreviver?”, você deve estar se perguntando. Pois bem, não se trata aqui de acabar com ou destruir o trabalho, até porque isso é impossível. Mas de refletir sobre a ideologia criada em torno do trabalho, para que e para quem essa ideologia está servindo.

     E, mais importante que isso, é calcular esse trabalho no tempo. Quanto tempo é necessário para desenvolver um determinado trabalho? Qual o tempo que o ser humano necessita para sua liberdade? O autor do artigo propõe que troquemos o trabalho pela habilidade de fazer uma obra.

     O trabalho tem extrapolado sua jornada “normal”. Somos obrigados a pensar, planejar nossa atuação no banco até mesmo aos domingos, durante a macarronada, “quem sabe aquele tio ou aquela cunhada não quer comprar um plano de previdência ou um seguro da casa?”.

     E quando chega o sagrado “tempo livre” das férias optamos pelos famosos pacotes de viagens. Somos submetidos ao “esquema” dos guias turísticos: acordar em tal hora, tomar café até tal hora, subir no ônibus no horário, divertir-se num determinado período, subir no ônibus de volta e dormir cedo para não perder o tempo do dia seguinte. Ora bolas, mas o tempo não deveria ser livre?

     Temos que destruir o dogma do “tempo é dinheiro” e construir uma nova relação com o tempo, conforme defende Thierry Paquot: “O tempo é um valor que não tem preço, desde que dele possamos dispor para o lazer precisamente. (...) Lazer significa ter tempo para si, não para um fim específico, mas para se fazer o que bem se queira. É, de alguma forma, um tempo de liberdade, e não um tempo livre”.

  12 fevereiro 2006
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De Sampa para Beagá

     Depois de ter lido este texto da Clarice Lispector, vejo que eu queria ser bobo do jeito que ela descreveu. Conheci minha esposa, por quem me apaixonei pela internet e mudei-me para o estado de Minas Gerais.
     Minha esposa é mineira, meu filho também. Hoje, eu vejo que a cada dia que passa vou me tornando cada vez mais mineiro, pois acho que o jeito nipônico de ser combina muito com o jeito mineiro.
     Nalu, eu te amo...

  08 fevereiro 2006
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Das vantagens de ser bobo - Clarice Lispector

     O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar no mundo.
     O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, reponde: “Estou fazendo. Estou pensando”.
     Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.
     O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem.
     Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas.
     O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver.
     O bobo parece nunca ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.
     Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro.
     Mas em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado.
     O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.
     Aviso: não confundir bobos com burros.
     Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: “Até tu, Brutus?”.
     Bobo não reclama. Em compensação como exclama!
     Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar no céu.
     Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
     O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos.
     Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos.
     Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida.
     Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás, não se importam que saibam que eles sabem.
     Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!
     Bobo é Chagal, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas.
     É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

  04 fevereiro 2006
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Trecho do Livro do Desassossego - Bernardo Soares

     Releio passivamente, recebendo o que sinto como uma inspiração e um livramento, aquelas frases simples de Caeiro, na referência natural do que resulta do pequeno tamanho da sua aldeia. Dali, diz ele, porque é pequena, pode ver-se mais do mundo do que da cidade; e por isso a aldeia é maior que a cidade...
“Porque eu sou do tamanho do que vejo E não do tamanho da minha altura.”

     Frases como estas, que parecem crescer sem vontade que as houvesse dito, limpam-me de toda a metafísica que espontaneamente acrescento à vida. Depois de as ler, chego à minha janela sobre a rua estreita, olho o grande céu e os muitos astros, e sou livre com um espelndor alado cuja vibração me estremece no corpo todo.
“Sou do tamanho do que vejo!”

     Cada vez que penso esta frase com toda a atenção dos meus nervos, ela me parece mais destinada a reconstruir consteladamente o universo.
“Sou do tamanho do que vejo!”

     Que grande posse mental vai desde o poço das emoções profundas até às altas estrelas que se refletem nele, e, assim, em certo modo, ali estão.
     E já agora, consciente de saber ver, olho a vasta metafísica objetiva dos céus todos com uma segurança que me dá vontade de morrer cantando.
“Sou do tamanho do que vejo!”

     E o vago luar, inteiramente meu, começa a estragar de vago azul meio-negro do horizonte.
     Tenho vontade de erguer os braços e gritar coisas de uma selvajaria ignorada, de dizer palavras aos mistérios altos, de afirmar uma nova personalidade larga aos grandes espaços da matéria vazia.
Mas recolho-me e abrando.
“Sou do tamanho do que vejo!”

     E a frase fica-me sendo a alma inteira, encosto a elatodas as emoções que sinto, e sobre mim, por dentro, como sobre a cidade por fora, cai a paz indecifrável do luar duro que começa largo com o anoitecer.

  03 fevereiro 2006
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Help Me - Concrete Blode

Maybe it's just a phase
the days and the nights and the nights and the days
of tossing and turning and buring and churning
Inside my brain

Or, maybe I'm FINALLY insane
but I don't know who to believe anymore
It's like I'm caught in some revolving door
over and Over and OVer and OVER

....teach me how to pray.
....tell me what to say
help me help me help me find my way

I never could play the game
And all their faces look the same
And I won't give up
Won't give in
You know I never want to be like them I'm
Ticking away like time
Out of sync and out of my mind
well I used to know a truth from a lie
just by
looking in your eyes
lies

....carry me away
....farther and farther and farther everyday

help me help me help me find my way

Hanging by a thread
and waves of confusion break down on my head
when I think of all the things you said well the words
fall
dead

....higher every day
....a price i swear i'll never pay no way

help me help me help me find my way